Infertilidade

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Análise do Sêmen

A análise do sêmen deve ser o primeiro teste laboratorial solicitado. Deve ser cuidadosamente realizada para que possa fornecer as informações necessárias com relação à sêmentogênese e à permeabilidade do trato reprodutivo. A análise do sêmen não é um teste de fertilidade, e o exame do ejaculado deve corresponder às orientações estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Geralmente, é aconselhável a obtenção de duas análises de sêmen antes que se ofereça uma opinião sobre a condição do paciente. Um período de abstinência de 2 ou 3 dias deve ser respeitado, e o tempo de entrega do material ao laboratório não deve exceder 1 hora, para que não se prejudique a análise da motilidade e da progressão anterógrada dos espermatozóides. Alterações no período de abstinência podem invalidar comparações entre as análises. Preferencialmente, o ejaculado deve ser obtido na clínica através de masturbação e coletado em um recipiente de vidro ou de plástico especial com uma abertura ampla, que não aglutine os espermatozóides ou diminua sua motilidade e vitalidade. Uma vez que vários lubrificantes e mesmo a presença de saliva podem prejudicar os parâmetros do sêmen e invalidar sua análise, o seu uso deve ser desencorajado.

Caso a primeira análise seja normal de acordo com os parâmetros da OMS, outras amostras devem ser obtidas para avaliar a função espermática. No caso de um primeiro exame anormal, ao menos mais um, e possivelmente mais dois devem ser obtidos em momentos diferentes, para documentar, classificar e confirmar o tipo de anormalidade.

De acordo com a OMS, os valores anormais para a análise do sêmen devem ser: volume do ejaculado inferior a 2,0 ml, concentrações de sêmen inferiores a 20 x 106 por ml, contagem total de espermatozóides inferior a 40 milhões, mobilidade inferior a 50% das células com progressão anterógrada com qualidade inferior a 2 (na escala de 0 a 4), e morfologia com menos de 30% de formas normais. Os termos oligospermia, astenospermia, teratospermia ou a combinação dos mesmos se referem a amostras individuais de sêmen com anormalidades no número, mobilidade, morfologia, ou na combinação dos mesmos, respectivamente.

A frutose é produzida nas vesículas seminais e é dependente de andrógenos. A ausência de frutose no sêmen, o baixo volume seminal e a falha do sêmen em coagular indicam ou a ausência congênita dos deferentes e vesículas seminais ou a obstrução dos ductos ejaculadores. Os níveis de frutose devem ser determinados em todo paciente com volume ejaculatório inferior a 1,5 ml. Inicialmente deve-se solicitar um teste qualitativo e, se este for negativo ou limítrofe, proceder à análise quantitativa de frutose.

A liquefação do sêmen é um processo fisiológico que ocorre espontaneamente 5 a 20 minutos após a ejaculação. Os elementos responsáveis pela coagulação são encontrados nas vesículas seminais, enquanto que as enzimas proteolíticas que iniciam a liquefação derivam da próstata. A viscosidade do sêmen deve ser anotada. Alterações nestas características apontam para disfunções das glândulas acessórias e podem afetar a análise da motilidade e densidade do sêmen. Aglutinações são altamente sugestivas de problemas imunológicos. Anticorpos anti-espematozóides podem ser determinados tanto no sêmen como no sangue. Os testes diretos, que medem a presença de anticorpos anti-espermatozóide na superfície do espermatozóide do paciente, são os preferidos. No caso de poucos espermatozóides móveis ou de contagens muito reduzidas, sangue ou sêmen do paciente podem ser usados em testes indiretos. O surgimento de “células redondas” deve ser cuidadosamente anotado, e deve-se então proceder a um teste de quantificação leucocitária (teste de Endtz). Este teste é realizado em células suspensas em sêmen liquefeito e quantificado pela contagem de células marcadas em uma câmara de contagem de Makler. Granulócitos positivos para peroxidase (neutrófilos, leucócitos polimorfonucleares e macrófagos) são identificados por colorações com imunohistoquímica e contagens leucocitárias superiores a 1 milhão por ml são consideradas anormais. Este teste é extremamente importante porque ajuda na decisão sobre o tratamento de uma possível infecção, evitando o uso excessivo e desnecessário de antibióticos para o que poderia ser apenas a presença de espermatozóides imaturos.

A avaliação da morfologia espermática requer treinamento e experiência, e determinações acuradas necessitam de preparações citológicas específicas. De acordo com a OMS, a morfologia espermática pode ser classificada como normal (oval), amorfa (grande ou pequena, ou qualquer defeito), duplicada, ou imatura. Mas estes critérios dão margem a uma grande variação na classificação.

Critérios mas restritos de morfologia normal utilizam um ponto de corte de 14% de células normais para predizerem o sucesso de um ciclo de fertilização in vitro (FIV). Tais critérios incluem como “normais” somente aqueles espermatozóides com formas e dimensões perfeitas.